Página 39 das (AL-MG)


para o semiárido brasileiro? Isso estabelece uma discussão absolutamente ignorante: se 25m, se 20m, se 15m. Isso denegriu o Brasil lá fora, pois um governo inteiro joga com seu prestígio para dizer que são 15m, e não 10m.


Enquanto isso, temos aqui a instituição de maior prestígio internacional, reconhecida não por mim, que ajudei a criá-la, mas pelo Sr. Barack Obama, que veio ao Brasil dizer: “Não vim aqui para trazer benefício, vim aqui para pedir ao Brasil que ajude o mundo. Aqui vocês desenvolveram a tecnologia da produção de uma agricultura tropical que o mundo não conhece, a única capaz de fornecer alimentos com preservação ambiental e energia renovável, o que é desejado pelo mundo. Ajudem seus vizinhos da América Latina” -palavras dele. “Ajudem seus irmãos da África” - expressão do Lula. Ajudem os outros povos tropicais que não têm esse conhecimento. É esse país reconhecido lá fora pelo homem da maior potência, que vem a público, com sua maior autoridade, estabelecer um pífio diálogo de brigas, de desentendimentos para dizer que são 15m, e não 10m, não permitindo que a Embrapa fosse pelo menos consultada. Será que é isso que faremos no Brasil?


Embora meu tempo tenha terminado, peço ao Presidente para citar um exemplo ocorrido comigo, que deve ser alardeado. Em 1974, conseguimos uma autorização para contratar os primeiros mil profissionais que iriam montar a estrutura da Embrapa. Numa luta infernal com o antigo Departamento de Administração de Pessoal – Dasp -, após dois meses conseguimos que aqueles que tinham pós-graduação entrassem direto, enquanto os que não tinham fossem classificados para fazer os cursos onde existissem. Pasmem, em 1974. Esse concurso foi alardeado no Brasil e no exterior, tanto que apareceram três estrangeiros e um naturalizado. Apenas 52 profissionais tinham curso de pós-graduação naquela época. Fomos obrigadas a recebê-los todos. Mais de 900 da Embrapa foram fazer seus cursos fora, 460 das instituições estaduais e 92 professores. Foram lá fora para conhecer a ciência em seu mais alto grau, mais tecnologia e inovação a ser aplicada no bioma brasileiro. Os senhores sabem que isso deu certo: o Brasil criou em pouco mais de 20 anos o que o mundo levou 4 mil anos para fazer, e fizemos melhor.


Meus amigos, hoje o Brasil já forma 12.500 doutores por ano, mais de 3.000 nas áreas de Ciências Agrárias e Biológicas, que estão aí à disposição do País, para buscar e conhecer as riquezas que Deus nos deu. Outro dia, fazendo uma palestra na Embrapa, eu fui advertido. A minha sensação é a de que hoje, ao abrir uma vaga na Embrapa, devem aparecer mais de 53 doutores ou pós-graduados que, na década de 1970, corrigiram-me. A cada vaga aparecem mais de 150 doutores na disputa do cargo. Alguns deles prestam concursos para cargos que nada tem a ver com seu conhecimento. Será que nós, brasileiros, podemos continuar a promover esse desperdício e aplaudir intensamente a decisão da Presidente no seu programa de Ciência sem Fronteira? Ela disse que quer treinar 7 mil doutores lá fora. Parabéns! A minha preocupação é com o destino dessas pessoas que estão sendo capacitadas, que serão motoristas de táxi ou de caminhão, como estamos vendo hoje, como ocorre com alguns que aqui se formaram; ou se teremos programas de pesquisas, articulados em verdadeiras plataformas voltadas a que sejamos capazes de conhecer pelo menos os seis biomas principais que temos: Amazônia, o trópico semiárido no Nordeste, o cerrado, a mata atlântica, os pampas, e a região úmida do Pantanal. Será que não seremos capazes de conhecer esses biomas?


Meus amigos, estão colocando em uma discussão séria como esta que o mundo hoje depende do pior viés político, o viés ideológico, para deturpar o que já conseguimos fazer. Não podemos aceitar isso. A intocabilidade defendida por muitos, em nossos recursos naturais, significa ignorância. A capacidade e a competência geradas pelo conhecimento são a única forma de identificarmos os recursos naturais que recebemos de Deus, os quais não podemos destruir nem abandonar.


O mundo hoje está muito carente. Vejam esta advertência: o mundo hoje está muito carente dos recursos naturais, que já são escassos. E aqueles que adotarem as teses errôneas da intocabilidade desses recursos deverão, provavelmente em pouco tempo, perdêlos para os que forem competentes e capazes de manejá-los adequadamente. Não há outra alternativa. Entendo como competência conservacionista a nossa capacidade de conhecer esses biomas e saber como manejá-los, os seus e os nossos recursos naturais, que são a água, o solo, a planta e os animais, sem destruí-los, mas, pelo menos, tirando deles as riquezas que Deus nos deu. Imaginar a Amazônia brasileira, hoje com 22 milhões de habitantes - defino de forma diferente, o trópico úmido brasileiro tem 12 milhões -, sem nenhuma capacidade de conhecimento para o manejo desses recursos, é condená-la à miséria, à ignorância e à incompetência.


Agradeço à Assembleia por este convite que me fizeram, tocando em dois assuntos tão importantes para o nosso país nos dias de hoje. Esta é a Casa onde Minas precisa fazer, mais uma vez, valer a liderança que teve e que deve continuar a ter no cenário nacional, para apresentar teses objetivas, que não sejam as manipulações que estamos vendo. Em que país deu certo a formação de regras absolutamente estapafúrdias? Controlá-las por um fiscalismo incompetente, que na maioria das vezes só leva à corrupção e ao roubo.


Meus amigos, agradeço, peço perdão pelo exagero do tempo, mas entendi que precisaria deixar aqui a voz de quem já caminhou na sua profissão por 52 anos. E espero, se Deus me der vida e saúde, continuar a caminhar. Mas creio que tenho a responsabilidade de advertir, especialmente uma Casa, uma escola política como esta, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para que daqui surjam os primeiros gritos libertários que Tancredo tanto defendeu. Muito obrigado.


Palavras do Sr. Edson de Oliveira Braga Filho


Boa tarde a todos e a todas. É um privilégio estar nesta Casa, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Estado onde nasci, Estado onde estou. É um privilégio ver a Assembleia Legislativa de Minas, por meio da iniciativa dos Deputados, proporcionar, neste Ano Internacional das Cooperativas 2012, a inserção de um tema que é muito caro à sociedade brasileira e mundial. Finalizo este evento como um privilégio, após ouvir aulas magnas da mais alta competência, em que todos nós tivemos o privilégio de aprender, e muito, para poder mudar esse processo. Na pessoa do Deputado Antônio Carlos Arantes, quero agradecer esta oportunidade e homenagear o ex-Ministro Alysson Paulinelli; o Sr. Márcio Lopes, da OCB, que realiza um brilhante trabalho; e o Dr. Ronaldo Scucato, Presidente do sistema Ocemg.


O nosso tema é “Sustentabilidade e negócios”. O primeiro ponto a ser discutido e apresentado é a necessidade de termos uma visão realista para este momento que o mundo atravessa. Aliás, uma visão realista dentro de uma nova ordem mundial que começou a ser construída na crise e que foi bem abordada pelo Dr. Márcio em setembro de 2008, num mundo que terá de reconstruir-se novamente. Nessa crise, serão necessários pelo menos mais 10 ou 20 anos para que as coisas comecem a caminhar dentro dessa visão realista,

fonte: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/43463180/al-mg-23-11-2012-pg-39?ref=serp